É uma cidade pequena. E como toda cidade pequena essa também tem uma capacidade de nos fazer desacelerar. Ora, para nós que moramos num centro urbano do tamanho e com a complexidade de Belo Horizonte, chegar numa cidade com pouco trânsito, pouca poluição sonora é um choque. Pra mim, uma semana é o limite de tanta tranquilidade. Não sei se saberia viver por muito tempo sem o habitual stress daqui.
Mas é sempre bom saber que tão perto de casa (a 112km de BH) tem uma cidadezinha com esse poder. Acho que no caso de Jequitibá a lagoa faz toda diferença. Uma volta ao redor dela e pronto, o relógio trabalha mais devagar.
Régis (meu companheiro de viagens) e eu chegamos na cidade na segunda de manhã. Na tarde de quarta feira reparei que minhas pernas não me obedeciam. Era impossível andar no meu ritmo normal. Parece que a cidade dita o próprio ritmo. Lembro de ter pensado que daquele jeito não terminaria o trabalho a tempo. Claro que foi um pensamento tolo, a gente sempre termina um trabalho a tempo.
Uma das curiosidades do lugar é a maneira de ser referir às distâncias e aos lugares. Tudo até o "asfalto" era muito perto. E eu me perguntava: "asfalto"? Mas é assim mesmo. Pergunte onde é ao clube e logo te respondem; "É logo ali no "asfalto". O CRAS, a UBS, as novas delegacias tudo no asfalto. Descobrimos que esse costume se deu porque a cidade havia sido asfaltada a pouco tempo. E até então somente a rodovia de acesso à cidade MG 238 era asfaltada e o resto do município possuía ruas de terra batida. Lembro que meu primeiro pensamento foi a referência que os moradores das favelas principalmente no rio de Janeiro fazem do resto da cidade. Quem mora nos morros eram os favelados e quem mora no asfalto as pessoas que possuíam toda a infra estrutura que a cidade oferece.
É uma cidade de pouco comércio. Isso é justificável pela proximidade de Sete Lagoas. Mesmo assim, senti falta de uma padaria de verdade com guloseimas que me ajudassem a passar as longas noites no hotel, sem internet...
Já que mencionei o hotel. Não que eu queira ser mais crítica do que já sou. Tudo muito limpinho e café era gostoso. Café pra quem acorda cedo é um item muito importante de se analisar. Mas sequer tinha recepção e raramente se consegui falar com a dona por qualquer que fosse o motivo. Faltava coisas básicas de manutenção e isso torna o lugar pouco confortável. E já mencionei que não tinha internet? Uma semana sem internet??? Sim, foi uma semana sem internet. Uma longa semana sem internet.
Para salvar, o hotel não ser cinco estrelas, em frente dele funciona um simpático restaurante. A dona o construiu nos fundos de sua casa e a entrada é pela garagem. Só funciona para almoço, mas como o hotel não oferece outra refeição além do café da manhã a dona do restaurante combinou um horário que pudéssemos jantar com ela. Foi a salvação da pátria. Comida tipicamente mineira e caprichada, mal conseguia esperar a hora do almoço pra reabastecer a bateria... rssss.
Bem, não adianta. O charme da cidade é a lagoa. É um daqueles lugares que se pode estender uma toalha xadrez vermelha e branca debaixo de uma das grandes árvores que tem nas praças ao redor. Colocar uma cesta de vime cheia de gostosuras ao lado e passar a tarde com um bom livro. Se tiver alguém especial pra te acompanhar melhor ainda. Como o relógio trabalho devagar na cidade, seriam horas e horas de puro relaxamento. Eu aconselho a quem tem veículo próprio tirar uma ou outra tarde e simplesmente fazer o que os italianos chamam de "dolci far niente", a beleza de fazer nada. Como eu passei pela lagoa várias vezes, fiz um bocado de fotos do lugar. Acho que nem o pédio do Niemeyer da Savassi eu fotografei tanto.